É tão fácil estimular a mente
É tão fácil estimular a mente. Queremos tanto ser estimulados. É como uma fome, da qual parece nunca ficarmos saciados. Mas, tal como o excesso de comida provoca obesidade, o excesso de estímulo provoca saturação da mente, deixando-a insensível, incapaz de realmente apreciar o momento. Vejo isso muito, à minha volta: a minha sobrinha a tomar o pequeno almoço, enquanto vê qualquer coisa no telemóvel, pessoas a falar, levantando o olhar constantemente para a televisão, aquela senhora que vai a caminhar junto ao rio, distraída a falar ao telemóvel com alguém que não está ali…parece ser difícil fazer uma coisa apenas, focar a atenção apenas, e exclusivamente, no que está a acontecer nesse sítio, e nesse momento. Só olhar pela janela e ver a chuva a cair, por exemplo. Só estar sentada à mesa, a comer o pequeno-almoço, realmente apreciando cada pedaço de comida ingerido. Só andar pela rua, sentindo o corpo a mover-se naturalmente, ouvindo o vento e vendo as cores das coisas. O nosso cérebro é capaz de processar vários estímulos, mas só consegue dar atenção plena a uma coisa de cada vez. Pela definição de “atenção plena”, não dá para garantir 100% de atenção a várias coisas, já que, se assim fosse, precisaríamos de 200, 300% de atenção… Sendo o nosso limite os 100% de atenção, aumenta-se o número de focos de atenção e, garantidamente, iremos dedicar apenas uma parcela dessa atenção a cada um dos focos. E isso, necessariamente, diminui a nossa capacidade para viver plenamente; porque não estamos, por completo, entregues ao momento presente, aquele onde o nosso organismo está, de facto, presente de corpo e mente. É mesmo caso para dizer: menos é mais. Menos focos de atenção é mais vida, é mais presença. Mas é preciso treinar a mente, para esse efeito. A tendência natural é para… ia dizer, para a mente se mover na direção de uma multiplicidade de estímulos, mas sei que, no fundo, a tendência é para a mente seguir o caminho do hábito. E o hábito instala-se pela repetição. Por repetidamente notarmos como nos sentimos, em cada situação. As pessoas não são seres acabados, nem fixos. A mudança acontece, e acontece constantemente, mas é preciso investimento. E dedicação. E coragem.
